Gazeta Itapirense

Seção Nossa História: os antigos e movimentados largos de Itapira

“Pelo menos quatro largos existiam na Itapira de 1893, tomando por base o lançamento do imposto predial daquele ano.” Tal constatação foi feita pela historiadora Odette Coppos na década de 1990. Diz a pesquisadora serem eles: Largo do Riachuelo, da Estação, da Cadeia e da Liberdade.

Os dois últimos curiosamente dividiam o mesmo espaço, onde hoje é a Praça Bernardino de Campos, sendo que neste mesmo quadrilátero existiam, além de várias casas, a Igreja Matriz, que ocupava o mesmo lugar da atual, e o prédio que abrigava a Cadeia Pública e a Câmara Municipal, localizado onde existiu o coreto de madeira.

Os dois maiores prédios daquele espaço estariam construídos perpendicularmente um ao outro com suas frentes voltadas para o mesmo pátio, que defronte à Cadeia/Câmara era denominado Largo da Cadeia e a parte voltada para a igreja de Largo da Liberdade. Com a remoção da cadeia para o novo prédio ao lado do Parque Juca Mulato em 1905, a remodelação da fachada da Igreja Matriz em 1921 e a construção do jardim à sua frente o local recebeu a denominação que tem até os dias atuais.

Já o Largo da Estação, segundo o historiador Jácomo Mandato, teria recebido antes a denominação de Largo Pedro Álvares Cabral, porém sem nenhuma confirmação documental, segundo ele mesmo. Constam apenas notícias em jornais da época com referência ao antigo nome daquele espaço. O mais curioso é que nem mesmo o poder público tinha conhecimento de tal fato, tanto que em abril de 1951, quando por indicação do então vereador Antonio Caio o logradouro passou a ser chamado de “Praça João Sarkis Filho”, em homenagem àquele dinâmico industrial, a ata da Câmara Municipal traz a seguinte redação: “Passa a denominar-se ‘Praça João Sarkis Filho’ a atual praça denominada ‘Largo da Estação’, nesta cidade”.

Primeira igreja de Nossa Senhora da Penha. com a fachada colonial. Foto de 1910

Parece-nos, porém, que o mais charmoso dos quatro largos citados pelos historiadores seria mesmo o menor deles, o “Largo do Riachuelo”. Consiste em um triangulo formado pelas ruas Sete de Setembro e Joaquim Inácio com uma ligação transversal entre elas. São raros os seus documentos fotográficos, dificultando assim uma visualização mais nítida de como ele teria sido, naquele passado remoto, antes de ser denominado “Praça do Riachuelo”, em 24 de outubro de 1953, quando recebeu ajardinamento, iluminação, colocação de bancos e calçamento da rua com paralelepípedos, acabando assim com “a alegria da molecada e a presença de circos”, como relata Jacomo Mandato. Isso mesmo.

Ali o picadeiro era montado. Vejam o que ele, Jácomo, diz: “O Largo do Riachuelo era o espaço destinado à instalação dos circos que chegavam na cidade. O circo tomava a maior parte do espaço do triangulo. O chão era metade terra solta e um gramado ralo, pisoteado pelas pessoas. A entrada para o circo ficava voltada para a direção da rua Joaquim Inácio. Ali se aglomerava o povo, os músicos da Banda Lira Itapirense e o pipoqueiro José (“Pepino”) Anastácio, auxiliado pela filha Dora. Também estavam ali as vendedoras de doces dona Ernesta Leite e Margarida Bicudo (conhecida por “Margarida do Ataíde”), além do carrinho do “Sorvete do Galo”.

Dentre os pesquisadores do passado quem mais descreve este logradouro é mesmo Jacomo Mandato por haver ele bem conhecido o local, como mais uma vez discorre: “O meu mundo, na infância e na  adolescência, eram a Avenida Rio Branco e o Largo do Riachuelo. Todas as crianças do planeta estavam ali.

Itapira para mim resumia-se naqueles dois espaços, naqueles dois territórios ilimitados”. Será que existe ainda algum morador daquele tempo no Largo do Riachuelo?

 

*Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal Gazeta Itapirense em 26 de setembro de 2015 dentro da seção ‘Nossa História’