Poema: Azulejos Frios, por Guilherme Reis
Há algo cinza nas paredes sem memória,
o bolor avança como tempo esquecido.
Cada azulejo carrega um segredo
que ninguém quis ouvir.
O espelho trincado no banheiro
devolve um rosto borrado de ontem.
A torneira pinga —
contando segundos que não importam.
A luz do corredor não acende mais,
preferiu se esconder com os ratos.
Um casaco velho na cadeira
ainda guarda o cheiro de alguém que partiu.
A geladeira ronrona no escuro,
monótona como reza sem fé.
No prato, migalhas de silêncio.
Na xícara, um resto frio de saudade.
Ouço passos que não são meus.
Talvez do tempo, talvez do arrependimento.
A fechadura gira sozinha às vezes —
como se ainda esperasse.
A cama me aceita sem perguntas,
lençóis úmidos como pele cansada.
Lá fora, o mundo tropeça em seus barulhos,
mas aqui tudo sussurra, tudo observa.
Sonho que escrevo bilhetes em guardanapos,
mas o vento leva antes que alguém leia.
E amanhece como sempre:
sem marcas, sem testemunhas.
Fui um vulto entre objetos quebrados.
Fui um corpo entre cheiros de ferrugem.
E se alguém perguntar se estive aqui,
nem mesmo o eco vai lembrar.
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Este texto foi escrito por Guilherme Reis, um autor itapirense que gosta de explorar temas variados em sua escrita, desde o amor até a ficção científica, sempre com um toque criativo e reflexivo.
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