Gazeta Itapirense

Nossa História: o bebedouro da Estação

Bom mesmo é puxar pela memória e entrar em nosso passado relembrando coisas que fizeram a história da cidade e da qual pudemos participar.

Há alguns dias atrás seguindo para a nossa tradicionalíssima Festa de Maio acabei fazendo o mesmo trajeto de quando era jovem, ou mesmo ainda menino, saindo da Rua da Penha, descendo pela Manoel Pereira, passando pela Praça João Sarkis Filho, tomando a Rui Barbosa ou seguindo pela Avenida Rio Branco, até atingir o local da festa.

É intrigante como que nosso passado está permanentemente presente nos momentos atuais de nossa vida. Por um instante vi-me pisando no calçamento de paralelepípedos, passando defronte à estação da FEPASA e ouvindo o apito dos trens que chegavam ou partiam.

Peguei-me parando ao lado daquela barroca que existia na esquina com a Rua Rui Barbosa, que se compunha de um denso matagal e era conhecida com a ‘Barroca do Bagatella’, em alusão ao seu proprietário. E o mais interessante foi até ter sentido meus pés molhados pela água que escorria do bebedouro para cavalos localizado bem no centro do largo, onde pensei até ouvir o relinchar dos animais.

Isso mesmo. Onde hoje existe um canteiro divisando a mão de direção dos veículos, havia algo como que uma enorme caixa d’água vertendo copiosamente o precioso líquido que servia para abrandar a sede dos animais que faziam o transporte, por meio de carroças, das mercadorias vindas de trem e descarregadas na estação. Esta, felizmente ainda hoje guarda todas as características dos áureos tempos, quando aquele local fervilhava com o movimento de passageiros e mercadorias.

O bebedouro servia não somente para os animais dos carroceiros que faziam ponto na estação, como também a todos que usavam do mesmo expediente para o deslocamento de suas propriedades rurais até a cidade. Aquele era sempre o local escolhido para uma parada de descanso e reabastecimento para os animais. Eu mesmo, por inúmeras vezes, pude presenciar este fato, em companhia de meu pai, que ali parava com seu cavalo e carroça para tal fim.

Quem hoje passar por aquele local sem antes tê-lo conhecido e observar toda a movimentação do pesado tráfego que por lá ocorre, jamais poderá imaginar que ali, um dia já foi um local bucólico e tranqüilo, onde o maior fluxo era mesmo de carroças e pedestres.

Em pontos mais remotos de nossa história, por lá pisaram nomes ilustres como o Imperador Dom Pedro II, o notável jurista Rui Barbosa e o governador Washington Luiz, dentre tantos outros, todos desembarcando da velha Maria Fumaça que freqüentemente aportava na antiga estação.

Não sabemos se nessa época o bebedouro já se encontrava no local, mas certo é que de onde nossa lembrança pode alcançar ele estava. É lamentável ter sido removido, afinal, poderia (?) ser mais uma atração turística para a cidade, porém, ao mesmo tempo temos que entender e aceitar que seria impossível mantê-lo em seu lugar de origem, pois o progresso chega para renovar e revigorar, no entanto, não consegue apagar o passado que vivenciamos e muito menos tirá-lo de nossa memória.

 

Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense