Nossa História: Fia Preta, uma verdadeira lenda da Festa de Maio
Se existe algo do qual o povo itapirense pode realmente se orgulhar é da sua grandiosa “Festa de Maio”. Por ela passaram algumas pessoas que podem ser consideradas até mesmo ícones em seu desenvolvimento histórico tornando-se verdadeiras lendas em sua trajetória como manifestação popular.
Uma delas, que nos vem sempre à memória quando o assunto é a tal festa, é Benedicta Teodora Rosa, ou simplesmente “Fia Preta”, como certamente era conhecida tanto nas rodas festivas, como nas sociais e até mesmo nas políticas.
Em 02 de agosto de 2015 Itapira e a “Festa de Maio” despediram-se daquela que nos últimos tempos melhor representou o teor dessa festividade. Afinal, Fia, além de ser descendente de escravos, era a personificação do elemento básico para a construção do âmago da festa: a popularidade.

Pensar em desvincular Fia e a Festa de Maio seria o mesmo que tentar separar o café do leite. Impossível. Por incontáveis anos, ininterruptamente, ela participou de praticamente todos os eventos relacionados à festa, deixando de freqüentá-la nos últimos anos por encontrar-se um pouco debilitada em função de ter a idade já avançada.
Sua última participação efetiva foi no ano de 2012, quando tive a oportunidade de fotografá-la enquanto ela esperava a chegada da Procissão da Coroa no Largo de São Benedito. Talvez seja este o último momento em que foi retratada.

Cozinheira de tempero apurado como poucas, ela era a banqueteira de primeira classe em sua época. Quando as famílias da sociedade itapirense se reuniam para alguma comemoração ou mesmo com a necessidade de oferecer uma grande festa, Fia era chamada para preparação dos quitutes aprimorados que seriam servidos.
Atendia com freqüência às casas de Dr. Hortêncio Pereira da Silva, Dr. Achiles Galdi, farmacêutico Antonio Serra dentre tantas outras mais que solicitavam seus valorosos serviços. Exercia ainda o ofício de engomadeira cuidando com maestria dos paramentos litúrgicos do padre Henrique de Moraes Mattos, pároco de Nossa Senhora da Penha.
Fia nasceu em Itapira no dia 17 de janeiro de 1917. Em sua certidão de nascimento consta como local que sua mãe, Marcelina Faustina lhe deu à luz como sendo o “Beco do Espinho”, conforme declaração de seu pai João Theodoro da Rosa no ato do registro. Infelizmente não encontrei nenhuma referência a tal lugar. Pessoas indagadas também não souberam dar informações precisas sobre o local, apenas indícios de que poderia ser aqui ou acolá. Mas isso ainda será melhor apurado e em outra ocasião trarei a informação correta.

Por enquanto vamos relembrando tópicos de sua vida cheia de muitos acontecimentos, seria propício citar o nome de Henrique Felipe da Costa. Ou seria melhor dizer simplesmente “Henricão”? Lembraram-se dele? Isso mesmo.
É aquele itapirense famoso que foi Rei Momo no carnaval paulistano de 1984 e compositor de sambas de sucesso como “Casinha da Marambaia”.
Cantor, ator de teatro, cinema e televisão, dono de um sorriso largo, alegre e simpático, ele era tio de Fia, irmão de sua mãe que são filhos de Ignês Faustina. Com seu veio artístico ele levou o nome de Itapira aos quatro cantos do Brasil. Fia sempre foi muito próxima e ligada a ele, não só pelo parentesco mas, sobretudo pelo vínculo criado entre eles através da Festa de Maio.
A esta pessoa simbólica dos festejos beneditinos e de contatos infindáveis em nossa cidade, deixamos registrado nosso apreço e consideração por sua imensa colaboração no desenrolar da história desta terra.

- Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense de 08 de agosto de 2015.