Nossa História: Coreto, o encantamento que o tempo desfez
Poderá existir algo mais bucólico¹ que cidadezinha do interior com jardim da Matriz, coreto e uma banda nele tocando? Qual mesmo o nome que se dava a isto? Retreta²?
Que perdoem os menos saudosistas, mas é muito bom relembrar os sábados e domingos à noite quando na Praça isso era rotina. Não tenho lembranças nítidas do antigo jardim, apenas vagos lampejos de uma memória infantil daquele reduto fascinante de nossa cidade. Felizmente muitas fotos foram preservadas para elucidar o passado contido em nossas memórias. Fotos que muitas vezes retratam o passeio na Praça onde as mulheres, de braços dados, caminhavam em uma direção e os homens em sentido contrário, para aquela deliciosa paquera e troca de olhares. Deixemos, porém a divagação de lado e enveredemos pelo objeto de nossa explanação de hoje que trata-se dos coretos de Itapira.
Existiam vários na cidade e a nossa querida Banda Lira costumava neles se apresentar. Talvez o mais remoto deles tenha sido este da foto abaixo, que ficava no interior do Parque Juca Mulato, na época denominado apenas de “Parque Municipal”, e que segundo Jacomo Mandato foi inaugurado em dezembro de 1910.

Posteriormente foi substituído por um mais baixo, com menos degraus para facilitar o acesso daqueles que nele se apresentariam, como pode ser visto na foto seguinte, tirada recentemente. Este, possivelmente instalado no mesmo local do antigo ainda é muito utilizado nos dias atuais em apresentações de vários seguimentos artísticos.

Temos também um outro bem antigo e que resistindo ao tempo e à modernidade permanece até hoje no mesmo lugar e é ainda utilizado um algumas ocasiões. Fica no Largo de São Benedito, bem ao lado da igreja como podemos constatar nesta foto da Festa de Maio do ano de 1970.
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Porém, o mais charmoso de todos os coretos que Itapira já teve, ou tem, ficava no antigo Largo da Matriz. Não consegui descobrir a data de sua inauguração, somente que ele foi demolido com a reforma da Praça, logo após a construção da nova Igreja de Nossa Senhora da Penha, na década de 1960. Com o telhado todo trabalhado possuía um cume central lembrando uma pirâmide e mais quatro bicos laterais formando cumeeiras³ bem definidas, sustentadas por colunas torneadas e encabeçadas por acabamento minuciosamente detalhado. Realmente uma verdadeira obra de arte, como vemos na foto seguinte, que jamais deveria ter sido removido da praça central, afinal, além de ser um patrimônio histórico e cultural da cidade foi palco de inúmeros acontecimentos que marcaram época em nossa terra.

Aquele coretinho charmoso, com a reforma da Praça Bernardino de Campos, foi substituído por este que vemos nesta última foto. Era bem mais amplo que seu antecessor e seguia linhas retas, que era a coqueluche da época, obedecendo o estilo da praça à sua volta e quase que o da nova igreja ao seu lado. Localizava-se naquela parte rebaixada que dá acesso à grande escada que conduz ao nível inferior da praça (lá onde ficava a fonte luminosa). Era todo feito de madeira, bonito até, mas com o desleixo sabe-se lá de quem, acabou apodrecido e tendo que ser retirado. Nele, e essa lembrança é bem nítida, aos domingos à noite a Banda Lira Itapirense executava sua retreta enquanto pessoas passeavam pela praça. Hoje, lamentavelmente, tudo está relegado ao abandono. Alguns poucos transeuntes se ariscam passar à noite pelo logradouro, por extrema necessidade, correndo o risco de serem vítimas dos meliantes que do local se apossaram. O Pode Público municipal cogita uma outra reforma na Praça. Será que nela sairá um belo coretinho?

(Bucólico¹) O termo, além de referir-se às belas paisagens do campo, expressa também algo gracioso, ingênuo, simples ou puro.
(Retreta²) Toque de banda de música em praça pública.
(Cumeeira³) A parte mais elevada de uma cobertura ou linha de separação das águas de um telhado.




