Gazeta Itapirense

Itapirense Samanta Galvão comemora 10 anos de trajetória na literatura independente

Em um país onde mais da metade da população não lê (dado apontado pela pesquisa Retratos da Leitura 2024, do Instituto Pró-Livro), a trajetória de Samanta Galvão desafia a estatística.

Aos 30 anos, a escritora itapirense completa uma década de carreira na literatura independente, celebrando um catálogo com 18 livros publicados e uma estética marcadamente brasileira, atravessada por protagonismo feminino e narrativas que dialogam com a cultura nacional.

Embora não escreva manifestos, Samanta reconhece que suas personagens carregam força, autonomia e camadas emocionais que refletem as mulheres que observa ao seu redor. “Isso aparece na condução e criação das personagens”, explica.

A autora transita por diversos gêneros, do suspense à romantasia (romance com fantasia), mas preserva a mesma identidade: uma literatura que reverencia o Brasil. Isso se revela nos cenários, nos objetos, nos sabores e sons que compõem suas histórias.

“Sempre busco não só ambientar o cenário nacional, mas reverenciar a nossa cultura. Jarras de abacaxi na mesa, filtros de barro, personagens vendo reprise de novela, bolo de fubá com café da tarde, trilhas só de música brasileira”, conta.

Escritora itapirense completa uma década de carreira na literatura independente (Foto: Gabriel Rello/Divulgação)

Seus títulos, todos disponíveis na Amazon, somam milhares de avaliações e estão prestes a alcançar a marca de um milhão de páginas lidas, consolidando-a como uma das autoras independentes mais prolíficas do interior paulista.

Samanta brinca que sua história com a literatura começou antes dela, afinal, seu próprio nome foi tirado de um livro. Mesmo assim, demorou para aprender a ler. Quando finalmente descobriu a leitura, mergulhou sem volta, especialmente na adolescência, quando a saga Crepúsculo reacendeu sua paixão pelos livros.

Foi ali, em meio a romances adolescentes, que escreveu suas primeiras fanfics (histórias de ficção criadas por fãs que usam personagens, cenários e tramas de obras já existentes, como filmes, séries, livros ou quadrinhos) recebeu os primeiros comentários de leitoras que amavam suas histórias.

“Até então não tinha caído minha ficha que eu era uma escritora. Na minha cabeça era só algo que todo mundo estava fazendo, nada muito especial”, relembra.

A possibilidade real de ser escritora só surgiu anos depois, em dois momentos diferentes. O primeiro, ao ler um livro de Nora Roberts, no qual a protagonista sonhava em ser escritora. “Me identifiquei profundamente. Pensei: será que eu também quero isso?”

O segundo aconteceu em uma livraria, ao encontrar um livro de outra autora que se chamava Samanta (sem o “th”, como ela). Era o primeiro romance de Samanta Holtz.“Aquilo me fez pensar: se ela conseguiu, eu também posso. E fui atrás disso até a publicação do meu primeiro livro”, afirma.

Esse marco culminou, em setembro de 2015, na publicação de Uma Grande Espiã (suspense), seu primeiro romance, reescrito anos depois e transformado na trilogia que abriu caminho para a carreira independente.

Apesar da produção literária intensa, Samanta nunca viveu exclusivamente de seus livros, pelo menos não ainda. Criada em uma família de costureiras, cresceu entre tecidos e máquinas industriais, e trabalhou na confecção desde sempre.

Nesse ritmo acelerado, ela desenvolveu a habilidade de harmonizar universos distintos: a costura, a escrita e, ainda, o teatro, atuando ocasionalmente em peças como atriz.

“Para conciliar tudo isso, preciso de organização”, conta. Ela escreve de madrugada, antes do expediente da costura. “É quando tudo flui.” Em média, produz cerca de mil palavras por dia, hábito que virou disciplina, e disciplina que se tornou método.

Esse compromisso diário, repetido por anos, moldou sua escrita e seu amadurecimento técnico, um processo que, segundo a própria autora, foi natural. “Quanto mais a gente faz, melhor fica.”

  • O VASTO CATÁLOGO

A bibliografia de Samanta é extensa, diversa e ambiciosa. São 18 títulos publicados independentemente, incluindo trilogias, spin-offs, romances contemporâneos, dramas familiares, thrillers policiais, fantasia urbana e romantasia.

Apesar da variedade, há elementos que atravessam todas as obras: narrativas em terceira pessoa, personagens complexos e uma brasilidade intencional. Todas as obras podem ser encontradas no perfil da autora na Amazon.

“Minha formação em Letras mudou tudo”, conta ela. Foi na graduação que ela revisitou clássicos nacionais, encontrou referências que antes subestimava e descobriu que amar as próprias raízes era também um ato literário.

Para Samanta, isso não é detalhe: é afirmação. “Quero reverenciar o que é nosso. E acho que isso torna o livro nacional único no mundo.”

Nascida e criada em Itapira, Samanta sente que a própria origem molda seu olhar. Ao mesmo tempo que reconhece as limitações culturais de cidades pequenas, enxerga nelas um impulso para ampliar o mundo, o que acabou refletindo em sua literatura, que percorre cenários brasileiros diversos e, não raro, dialoga com regionalismos e costumes. “Quero conhecer o Brasil inteiro e mostrá-lo nos meus livros.”

Ao longo dessa década, Samanta enfrentou preconceitos, alguns explícitos, outros disfarçados. Muitos leitores ainda estranham histórias ambientadas no Brasil, outros rejeitam narrativas em terceira pessoa.

Mas, para cada obstáculo, houve conquistas significativas. Duas delas se destacam: o impacto da romantasia Canção do Oceano, primeiro volume da série Os Herdeiros, e o sucesso da série Bodini, escrita em parceria com a autora Clarissa Coral, amizade que Samanta considera um divisor de águas em sua trajetória.

Samanta atribui sua formação e o pilar de sua vida à família, mencionando as tias e avós que a criaram.

Suas influências literárias incluem grandes nomes brasileiros como Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector e Ariano Suassuna, autores que, segundo ela, nunca hesitaram em afirmar a identidade brasileira.

Mais recentemente, o teatro, área em que também atua, foi fundamental para refinar sua sensibilidade em relação a diálogos, gestos e emoções.

  • UM SENTIMENTO DE CONQUISTA

Ao olhar para trás, Samanta diz que, se pudesse conversar com a versão de si mesma de dez anos atrás, diria apenas: continue.

“Continue lendo, continue no seu mundo. Não tenha vergonha de ser tímida, de ser na sua. As coisas não vão sempre ser assim e te prometo que terá muito orgulho da pessoa que irá se tornar daqui 10 anos”, conta.

O caminho que parecia improvável se tornou real. “É um sentimento de conquista”, resume. “Eu nunca imaginei chegar até aqui.”

Para os próximos anos, os planos incluem viver exclusivamente da escrita e explorar adaptações de suas obras para o teatro ou o audiovisual, sonho que divide com o grupo teatral do qual participa.

E já há novidade confirmada: em janeiro de 2026, chega às leitoras um novo livro de romantasia, envolvendo piratas e caçadores de recompensas – um universo totalmente inédito, mas marcado pela identidade literária que ela construiu.

Ao completar 10 anos de carreira, Samanta Galvão reafirma sua força como autora independente e seu compromisso com histórias brasileiras, sensíveis, misteriosas e profundamente humanas. Em cada livro, costura mundos, às vezes com sangue, outras com magia, sempre com afeto.

Para acompanhar sua trajetória, Samanta compartilha rotina, processo criativo e novidades no Instagram: @samantagalvaoautora.