Empresa que vendeu ‘kits de higiene bucal’ milionários acumula denúncias na Justiça
A denúncia de superfaturamento na compra de kits de higiene bucal em Itapira ganha novos contornos ao ser comparada com casos semelhantes em outras cidades brasileiras. O contrato firmado pela Prefeitura com a empresa Editora Camano Sá Ltda, de Salvador (BA), prevê a aquisição de 6.392 kits pelo valor total de R$ 1.054.680,00, ou R$ 165,00 por unidade. A matéria foi publicada com exclusividade por A Gazeta e repercutiu em Itapira e região.
No entanto, no próprio site da empresa, o mesmo kit é comercializado por R$ 89,90, diferença que indica um possível superfaturamento de R$ 480.039,20 na operação realizada em Itapira. Apesar de já estarem nas escolas municipais, os kits ainda não foram entregues a alunos e professores.
A situação chama ainda mais atenção porque a mesma Editora Camano Sá está envolvida em investigações e medidas judiciais em outras cidades do país pela venda do mesmo material comercializado em Itapira.
Em Buíque, no estado de Pernambuco, o Tribunal de Contas homologou medida cautelar contra o prefeito Arquimedes Valença por suposto sobrepreço em contrato com a empresa. A aquisição envolvia mais de 16 mil kits e livros, com valor total de R$ 2,6 milhões. O Ministério Público de Contas pediu a suspensão do contrato por indícios de sobrepreço por unidade.
Na Paraíba, duas cidades diferentes se tornaram alvo de investigações. Em Nova Palmeira, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar a compra de 1.420 kits de higiene bucal pela gestão do ex-prefeito Ailton Gomes. O município conta com apenas 669 alunos, o que levantou suspeita de excesso na aquisição. Além disso, cada kit foi comprado por R$ 165,00, enquanto a fornecedora anunciava o preço de R$ 79,90. O montante chegou a R$ 236 mil e a entrega ocorreu fora do período letivo, com relatos de que os produtos eram de “péssima qualidade”.
Outro caso ocorreu em Picuí, também na Paraíba, onde a Promotoria de Justiça instaurou inquérito civil público para investigar supostas irregularidades em um contrato da Prefeitura com a Editora Camano Sá. Assim como nos outros casos, o valor unitário elevado dos kits chamou a atenção do Ministério Público.
Em Luziânia, Goiás, a prefeitura publicou um termo de rescisão unilateral do contrato nº 14/2025, firmado com a empresa Editora Camano S/A Ltda, responsável pelo fornecimento do material.
O contrato previa a aquisição de material didático pedagógico estruturado sobre o tema “Prevenção e Tratamento da Higiene Bucal”, destinado às escolas municipais e às Unidades de Saúde da Família, ou seja, o mesmo de Itapira.
A rescisão aconteceu após denúncias de irregularidades envolvendo o valor do kit.
Esses episódios revelam um padrão de questionamentos envolvendo a mesma fornecedora e reforçam a gravidade da situação em Itapira. O caso precisa de esclarecimentos urgentes por parte da administração municipal, especialmente diante do alto valor pago em comparação ao preço de mercado e do histórico da empresa em outros contratos investigados.