Duo Viola & Cravo traz combinação rara de instrumentos em passagem por Itapira
O encontro inusitado entre as violas brasileiras e o cravo barroco é a estrela maior do show EnLace, apresentado pelo Duo Viola & Cravo, formado por Ricardo Matsuda e Patricia Gatti. Em Itapira/SP, o duo apresentará um repertório de arranjos originais na Casa das Artes no dia 15 de agosto, sexta-feira, às 19h. A entrada é gratuita e antes, às 15h, haverá oficina aberta ao público interessado em conhecer mais sobre os instrumentos e a musicalidade apresentadas pelo duo.
O projeto EnLace celebra o encontro de dois instrumentos musicais que remetem a culturas, paisagens e tradições musicais distintas. O Duo Viola & Cravo propõe uma experiência instrumental inédita, marcada pelo entrelaçamento de musicalidades e memórias, pela amizade e comunhão artística.
Ao longo do 2º semestre de 2025, além de Itapira, o duo apresentará o show em outras nove cidades do interior e litoral paulista, convidando o público a uma vivência musical em edifícios centenários, tombados pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), hoje dedicados à cultura.
O projeto “EnLace – Duo Viola & Cravo” foi contemplado no Edital Fomento CultSP – PNAB, realizado pelo Ministério da Cultura do Governo Federal e pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural – ProAC e do Fomento CultSP.
Sobre o repertório
O Duo Viola & Cravo apresenta neste programa uma seleção de obras registradas em seus dois álbuns e novos arranjos concebidos especialmente para esta temporada.
O álbum de estreia do Duo, “Contos Instrumentais” (2009), apresentou esta combinação de instrumentos oriundos de ambientes socioculturais e históricos contrastantes: a viola caipira das modas e folias e o cravo barroco. Apresentadas em quatro suítes temáticas (Infância, Interior, Mundano e Metrópole), as composições de Ricardo Matsuda são inspiradas e dedicadas a personagens icônicos da cultura popular brasileira e universal. O CD foi muito bem recebido pela crítica especializada nacional.
Já em “O Cravo e a Rosa” (2016), segundo álbum do Duo produzido a partir de financiamento público via ProAC Editais, os músicos apresentam arranjos originais escritos por Tiago Costa, Ivan Vilela, Albano Sales e Ricardo Matsuda para obras de compositores brasileiros consagrados, como Dorival Caymmi, Tom Jobim, Milton Nascimento, Tavinho Moura, Edu Lobo/Chico Buarque, Baden Powell/Vinícius de Moraes, Hermeto Pascoal e
Guinga; além de um prelúdio de J. S. Bach (Partita nº 3) para viola solo, uma peça de anônimo do século XIV (“Stella Splendens in Monte”) e três canções da tradição oral brasileira (“O cravo e a rosa”, “A lua girou” e “Viva o sol, viva a lua”).
“O programa deste concerto traz ainda arranjos autorais inéditos, sugestivos de novos rumos do nosso duo, combinando o suingue da música brasileira, a música de câmara e a produção contemporânea”, aponta Ricardo Matsuda.
Um encontro inesperado
Para entender porque a junção entre viola e cravo é tão inusitada, é preciso primeiro visitar a história que cada um destes instrumentos carrega.
A viola tem origem portuguesa e chegou ao Brasil pelas mãos de padres jesuítas e colonos. Acompanhou as rotas do período colonial e assim foi se alastrando por todo o país. Descendente direta de violas portuguesas (Amarantina, Braguesa, Beiroa, Campaniça), as violas brasileiras foram aqui se forjando, adquirindo feições próprias em dezenas de variações de nome, como viola caipira, viola de cocho, viola de dez cordas, e inúmeras variações de formato, materiais, técnicas de construção, número de cordas e afinações.
As violas brasileiras sustentam presença marcante na cultura popular brasileira junto a foliões e brincantes, em modas caipiras e repentes nordestinos. Nas últimas décadas, violas e violeiros vêm conquistando novos públicos e espaços, como as salas de concerto, as universidades, as sessões de jazz ou de música instrumental, além da própria MPB clássica.
Símbolo musical do período Barroco (cerca de 1600 e 1750) até o início do séc. XIX, o cravo é considerado o mais importante e versátil instrumento de teclado e tem como maior particularidade o fato de que seu som é produzido através de martinetes que pinçam – ou beliscam – suas cordas.
Depois do instrumento ser considerado obsoleto para nova linguagem musical que surgia no fim do séc. XIX, muitos cravos tiveram seu mecanismo extirpado para serem transformados em pianos – mesmo que um seja erroneamente considerado precursor do outro, como elucida Patricia Gatti: “Ignora-se quanto ao surgimento, somente havendo documentos com descrições precisas em vários países europeus a partir do final do séc. XIV. O instrumento mais antigo que sobreviveu até nossos dias data do ano de 1521 (cravo de Girolamo de Bologna). Certamente o cravo deriva do saltério ou Címbalo, forma rudimentar de cítara, cujas cordas eram acionadas por meio de um ‘plectro’. O instrumento teria nascido da ideia de enriquecerem as possibilidades do saltério, equipando-o com uma palheta para cada corda e acionando o conjunto das cordas por meio de um teclado”.
Na França, o destino de centenas de instrumentos foi mais dramático: da nobreza que eram, foram confiscados e queimados durante a revolução francesa. Graças a um grupo de pioneiros no início do séc. XX, cravos antigos foram restaurados e preservados, observando-se sua qualidade tímbrica. No Brasil atualmente podemos contar com inúmeros luthiers construtores de cravos com primorosa qualidade sonora.
Sobre o Duo
O Duo Viola & Cravo foi concebido em 2009 por Ricardo Matsuda (violas brasileiras) e Patricia Gatti (cravo), em uma parceria musical que começou ainda como integrantes do Grupo Anima, do qual fizeram parte até 2008, e se consolidou com a gravação dos CDs “Contos Instrumentais” e “O Cravo e a Rosa”. Desde então, a dupla vem realizando uma série de shows e circulações pelo território nacional, através de prêmios e editais de fomento à cultura como o ProAC Editais e ProAC ICMS, além de parcerias com instituições relevantes para a difusão da arte como o Sesc no Estado de São Paulo.
Patricia Gatti é pós-graduada em cravo, com doutorado em música pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e uma das cravistas responsáveis pela inserção e atualização do cravo na música popular brasileira. Coleciona em sua trajetória inúmeros prêmios junto ao Grupo Anima, do qual fez parte desde sua fundação até 2008, além de ter participado de diversas formações camerísticas, orquestras, duos e projetos de circulação pelo Brasil. Paralelamente integra o Trio SIRUIZ de Rabeca, Cravo e Percussão e atua como prof.ª colaboradora em arte e musicoterapia do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Ricardo Matsuda é violonista, violeiro, contrabaixista, arranjador e compositor. Atua principalmente nas músicas popular e instrumental brasileiras, tendo participado de produções com grandes nomes do cenário nacional, de produções de CDs, trilhas sonoras para teatro, TV e espetáculos musicais. Integrou o Grupo Anima de 2001 a 2008, com o qual realizou turnês nacionais e internacionais, e tem ainda em seu currículo diversas colaborações em arranjos para a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Atualmente, além do Duo Viola & Cravo, atua com o grupo lasmanos, voltado à canção latino americana e brasileira, e em parceria com a cantora Izabel Padovani.
Serviço
EnLace | Show com Duo Viola & Cravo
Data: 15 de agosto (sexta-feira)
Horário: 19h (oficina às 15h)
Local: Casa das Artes (Rua Campos Salles, 04 – Centro, Itapira/SP)
Quanto: Grátis
Duração: 75min