Crônica: Campeonato Futebolístico dos Poetas e Rimadores, por Rodrigo Alves de Carvalho
Futebol é realmente um esporte cativante. O grito da torcida, a emoção de uma bonita jogada, a explosão de alegria pelo gol de seu time!
Várias sensações, desde a mais pura satisfação e felicidade, quanto nervosismo e raiva, dependendo da performance de sua equipe favorita.
Entretanto, não podemos negar que certas atitudes da torcida, muitas vezes, transformam o jogo de futebol em um episódio beligerante, fazendo a disputa se tornar um campo de batalha, com gritos, zombaria, xingamentos e até mesmo, as vias de fato entre os torcedores.
E não são apenas os torcedores rivais e os jogadores adversários que são as vítimas dos mal-educados, o árbitro da partida em muitas ocasiões é o principal alvo dos xingamentos, mais especificamente, a mãe do “juiz”.
Mas, isso não acontece no Campeonato Futebolístico dos Poetas e Rimadores Nacionais.
Esse torneio, realizado uma vez por ano, reúne não só equipes formadas por amantes dos versos e das rimas, mas também torcedores imbuídos dos mais nobres sentimentos líricos e poéticos.
O grito da torcida ecoa pelo estádio, num alvoroço da galera:
“Passou, passou, passou um avião
Num voo sublime e rasante
Nesta campina verdejante
Revelando que meu time é campeão!”
Porém, os ânimos também se acirram, e as torcidas apelam:
“Ei, adversário, vai tomar no olho que quase nada vê!”
A torcida rival retruca:
“É canja, é canja, é canja de Galliformes
Arrume outro time
Para enfrentar nosso uniforme!”
O futebol arte transcende o gramado e a arte invade as arquibancadas. A emoção aflora:
“Eu, sou poeteiro, com muito esmero, e muito amoooor!”
Até mesmo o juiz se torna alvo de rimas constantes:
“Ei, juiz, malandro ratoneiro
Ei, juiz, que oferece seu traseiro!”
Sem contar a senhora mãezinha do árbitro, que de forma versejada também tem seu coro proferido pelos amantes do esporte bretão:
“Juiz na rapinagem ladroeira
Filho de uma desavergonhada rameira!”
Sem dúvidas, o linguajar das arquibancadas se torna pura literatura no Campeonato Futebolístico dos Poetas e Rimadores Nacionais.
Até mesmo os objetos jogados pelos torcedores dentro do campo são literários, como livros de Carlos Drummond de Andrade e cordéis de Patativa do Assaré.
Já existe um projeto que será encaminhado para a FIFA, sobre a criação do Mundial de Futebol dos Poetas e Rimadores.
Iniciativa muito válida, ao pensarmos nas torcidas futebolísticas de diferentes continentes provocando os adversários e insultando as mães de árbitros de vários países, nos mais diferentes dialetos e idiomas, em forma da mais pura e eloquente poesia.
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais. Em 2025, publicou o terceiro livro “A saga de Picolândia” – série de relatos sociopolíticos acontecidos em Picolândia – uma pequena cidade do interior, cuja sua principal fonte de renda é a produção de sorvetes. Com um tom humorístico e irônico, com uma pitada de realismo fantástico, a obra reúne diversas crônicas engraçadas narradas por um morador desta cidade.