Gazeta Itapirense

Coluna ‘Traço Feminino’, por Hellen Santos

Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.

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Cidade Antirracista: Quando Mulheres Negras Ocupam o Poder, Toda a Cidade Respira

 

Falar de uma cidade antirracista é falar de um sonho que precisa urgentemente virar realidade. É imaginar ruas, praças, escolas, hospitais, políticas e decisões que não invisibilizem corpos negros, especialmente os femininos. É entender que não se constrói uma cidade justa sem ouvir e seguir as vozes de mulheres negras que há séculos lutam, resistem e propõem caminhos.

Mas para que isso aconteça, é necessário muito mais do que discursos bonitos em datas simbólicas. É preciso presença. É preciso poder. É preciso garantir que mulheres negras estejam não apenas nas ruas protestando, mas também nas cadeiras onde as decisões são tomadas, no legislativo, no executivo, nas secretarias, nos conselhos, nos espaços de gestão pública e privada.

Uma cidade antirracista só nasce quando se rompe o ciclo histórico de exclusão. Quando se entende que não basta criar políticas públicas, mas sim garantir que essas políticas saiam do papel e cheguem onde realmente importa: nas periferias, nos bairros esquecidos, nas vidas que sempre estiveram à margem. E mais do que isso: essas políticas precisam ser pensadas com e por quem vive essas realidades.

A presença de mulheres negras no poder não é apenas representatividade – é transformação. São elas que sabem, na pele, o peso do racismo institucional, do abandono do Estado, da violência urbana e da desigualdade. E por isso mesmo, são elas que trazem soluções reais, humanas e eficazes. Porque governam com o olhar de quem cuida, de quem vive, de quem resiste.

Construir uma cidade antirracista é também um chamado às mulheres não negras: para que se reconheçam como parte da mudança, mas sem protagonismo. O papel é somar, apoiar, abrir espaço e garantir que a equidade aconteça – mesmo que isso signifique ceder privilégios.

Não existe justiça racial sem mulheres negras no poder. Não existe cidade segura sem políticas públicas que combatam o racismo de forma prática e contínua. E não existe futuro justo se continuarmos repetindo o passado.

 

Cidade antirracista se faz com coragem, com ação, com afeto. E, sobretudo, com mulheres negras no centro da construção.

Por: Hellen Santos

Pedagoga, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

 

hellenccsed@gmail.com