Coluna ‘Traço Feminino’, por Hellen Santos
Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.
Seja muito bem-vinda (o) !
Discriminação Racial
O texto de hoje é sugestão de várias leitoras, em especial, mulheres negras que têm me acompanhado por aqui.
As narrativas que recebo sobre as dificuldades que essas mulheres vivem em Itapira para conseguir e se manter no emprego são assustadoras.
Confesso que para mim, infelizmente não é surpresa os relatos das leitoras sobre tamanha dificuldade, pois vivi e ainda vivo situações parecidas com as quais elas relatam.
Itapira tem tentado se desvincular a todo custo daquilo que está em suas entranhas. Os esforços têm vindo de várias frentes, seja do poder público municipal, instituições, movimentos, entre outros, Mas a discriminação racial ainda goleia.
Sou mulher, negra, que nasceu e se criou aqui, e que como todas vocês, também penso que às vezes esses esforços mais se parecem com um rito burocrático do que propriamente uma busca pela transformação.
De fato, as mulheres negras em nossa cidade estão sub representadas e não são escutadas verdadeiramente diante das suas necessidades e contribuições sobre seu povo, sua cultura e o que mais lhe pertence.
Há sempre alguém (branco) ditando o que deve ser feito, falado, movimentado ou transformado, mas é aquele ditado ..“mais do mesmo”.
As mulheres negras quando podem falar, e por aqui elas podem, elas dizem que não, não está tudo bem, muito longe disso!
A história que faz parte da construção da nossa cidade, o que hoje muito vem sendo discutida, não consegue furar a bolha, de quem fala, pra quem fala, por que fala.
A população negra, o que inclui os homens, são encontrados em quais empregos, em quais bairros? Quais são as oportunidades reais que eles têm?
Desde a infância até a fase da busca por trabalho, onde essas pessoas estão e para onde são conduzidas? As mães desses jovens estão seguras? É isso que elas desejam para eles?
Essa é uma questão de preconceito racial, que acomete as pessoas negras e as suas mães, que na maior parte do tempo, não dormem por medo do que pode acontecer aos seus filhos, e sim, em Itapira.
As mulheres negras que vão à luta todos os dias por toda a nossa cidade, implica mais o ser mulher, dói mais, porque como disse Lélia Gonzales em seu livro – Por um feminismo negro latino americano, “ naturalmente as mulheres negras ocupam os espaços de faxineira, doméstica, trocadora de ônibus..”
Esse naturalmente está imposto, e é um processo construído e mantido por uma sociedade (cidade), que não se acha racista, porque como dito acima , é natural o local que as mulheres negras estão .
As leitoras não acham natural, eu não acho, aliás, não é !
A mudança acontecerá quando existir um diálogo com quem vive e faz parte do nosso povo, quando existir um reconhecimento dos problemas, das diferenças, quando for possível ver uma mudança real de postura do município, que tem os instrumentos para fazê-lo, mas ainda não os usa.
Mas a nós, mulheres negras que sabemos que nunca foi possível esperar pela bondade do opressor, mas sim oportunizar as vozes, escancarar os incômodos e a discriminação sofrida, falaremos cada dia mais, por nós mesmas, sem mediadores que não fazem parte de Nós!
Se há uma lição que podemos aprender com a luta contra o racismo, tanto em nosso país quanto no seu, é que o racismo precisa ser conscientemente combatido, e não discretamente tolerado.”
Nelson Mandela
Por: Hellen Santos