Gazeta Itapirense

Crônica: A detetive do mundo cão, por Rodrigo Alves de Carvalho

“Assassinato no Asilo – Idoso de 90 anos é esfaqueado; arma do crime é um canivete de cortar fumo. Suspeito é um outro idoso de 92 anos. Investigadores suspeitam de motivos passionais, já que a namorada do suspeito, uma senhora de 91 anos, estaria lhe traindo”.

— O assassino não é o velho corno, e sim, o amigo dele. Escreve aí o que estou dizendo!

Enquanto minha mãe assistia a mais um programa jornalístico sensacionalista da tarde, conhecido como mundo cão, sua perspicaz dedução buscava solucionar mais um caso apresentado.

É sempre assim, toda tarde, minha mãe deita no sofá da sala, liga a TV e acompanha as notícias mais bizarras e chocantes com apresentação ainda mais bizarra dos apresentadores/comentaristas.

Cada caso mais escabroso que o outro, e minha mãe atenta a cada entrevista, a cada envolvido, em cada detalhe que ainda não foi detectado pelos investigadores e pelos jornalistas. Quase sempre, ela tem seus suspeitos, e até o modus operandi de como aconteceu o crime em questão.

E não é que ela sempre acerta!

Minha mãe já solucionou vários crimes, antes mesmo da polícia apresentar os envolvidos, como o sequestro do periquito de uma famosa socialite; o caso do assassinato com o travesseiro envenenado; o caso do serial killer fanhoso e o caso do roubo do caminhão de café gourmet.

Apenas acompanhando as reportagens e as entrevistas, ela formula suas linhas de investigação.

— Esse irmão da mulher do vizinho está gaguejando muito, para mim, ele tem culpa no cartório.

E é batata! No final das investigações, o irmão da mulher do vizinho é o culpado do crime.

Esses dias eu disse para minha mãe que ela havia escolhido a profissão errada, ao invés de costureira, deveria ter sido investigadora de polícia ou detetive profissional.

Eu, já não sou muito fã desses programas sensacionalistas, mas como minha mãe gosta, de vez em quando acompanho algumas notícias com ela. E na maioria das vezes, minhas suspeitas estão erradas.

— Para mim, tudo leva a crer que o assassino seja o velhinho suspeito mesmo, já que ele costumava pitar cigarro de fumo.

Já para minha mãe, o amigo dele, de 87 anos, tinha um jeito estranho de se portar durante a entrevista. Eu achei que poderia ser Parkinson, mas para minha mãe, era tremedeira de nervosismo.

No final das investigações, o culpado era realmente o amigo do velhinho corno.

Minha mãe acertou mais uma vez.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais. Em 2025, publicou o terceiro livro “A saga de Picolândia” – série de relatos sociopolíticos acontecidos em Picolândia – uma pequena cidade do interior, cuja sua principal fonte de renda é a produção de sorvetes. Com um tom humorístico e irônico, com uma pitada de realismo fantástico, a obra reúne diversas crônicas engraçadas narradas por um morador desta cidade.