Artigo: A vida além das telas, por Francisco Teles
Há lembranças que somente quem nasceu nos anos 90 — ou antes — poderá gabar-se de possuir. Tempos de presença, pessoas e conversas reais que foram substituídas por telas e entretenimento. Mas isso não necessariamente significa piora ou melhora — tudo depende do estilo de vida de cada um diante do mundo atual.
A hiperconexão afastou as pessoas ou apenas escancarou o quanto há de seletividade no “tempo gasto”, com quem e para quê?
Será que antes éramos “obrigados” a ocupar tempo com socializações com os mais próximos — seja por proximidade física ou social —, em vez de termos aquelas tão idealizadas conversas de calçada? Será que estaríamos mesmo nessas calçadas se já existisse a maravilhosa tela do smartphone em nossas mãos?
Será que não fizeram toda aquela “sala” — que foi, sim, muita presença — justamente porque não possuíam suas telas naquele momento?
Olhar por outros ângulos — os outros e a nós mesmos — amplia nosso senso de julgamento e nos dá respostas inquietantes. Também é um tanto quanto inconveniente remexer no fundo do baú, no íntimo das memórias doces guardadas com tanto carinho, que nos servem de abrigo e esconderijo em meio à vida dura, não?
Faz-se necessário ter coragem — e até um pouco de “brio”, como diria Clóvis de Barros Filho — para examinar as coisas e sair do mundo da imaginação, encarando a realidade. Ou não, né? Quem sou eu para afirmar qualquer coisa!?
Falando em nostalgia, encerro o textinho citando um trecho de uma banda que eu ouvia muito na adolescência, NX Zero:
“… E dentro de você existe o bem, o mal e a escolha certa.”
Para o bem ou para o mal, é de nossa responsabilidade a sentença de decidir com quem — e como — gastamos nosso tempo. Resta saber se todos estão cientes de que essa moeda é única e irrecuperável. Telas e entretenimento serão sempre reinventados — mas o tempo, não. Assim como todos nós, que talvez estivéssemos nas calçadas, se não houvesse tanta burocracia, privação, seletividade e principalmente tanta desconfiança nas relações sociais de hoje.
Estamos desaprendendo a ser sociais.





