Gazeta Itapirense

Crônica: A última viagem do bife a rolê, por Rodrigo Alves de Carvalho

Fiquei sabendo que o Silvano, dono do boteco aqui do bairro, estava incluindo o bife a rolê em seu cardápio.

O Silvano cozinha muito bem, de quarta-feira, prepara língua de boi refogada e na quinta-feira geralmente é dia de frango caipira com polenta, além é claro, da tradicional carne com batata, torresminho, bolinho de carne e até mesmo, a fava com costelinha, que ele prepara nos finais de semana, quando o bar costuma receber também alguns familiares dos costumeiros frequentadores, que geralmente passam pelo bar quase todos os dias para uma cervejinha e uma iguaria preparada na ocasião.

Já experimentei todas as comidas preparadas pelo Silvano, e decidi degustar da mais nova delícia (o bife a rolê).

— Silvano, por favor, mande uma cervejinha bem gelada e um desses bife a rolê para eu experimentar!

— Já vou levar a cerveja, mas o bife vai demorar um pouquinho!

Olhei na estufa e realmente não tinha. Teria que esperar o Silvano preparar.

Meu amigo Johnny chegou no bar e sentamos à mesa para esperar meu bife a rolê. Tomamos uma cerveja, depois outra e outras…

— Silvano, cadê meu bife a rolê?

— Já está quase, mais uns minutinhos!

Eu e o Johnny tomamos umas vinte cervejas, quando o Silvano gritou atrás do balcão.

— O bife a rolê chegou!

Preparei um lugarzinho na mesa, apanhei o molho de pimenta e a farinha de mandioca. O Silvano colocou o prato com o bife a rolê sobre a mesa.

— Por que o bife a rolê demorou tanto para chegar? — Questionei o Silvano.

— Pergunte para ele. — Respondeu secamente.

Olhei para o bife a rolê… e ele me disse:

— Estava dando um rolê.

No momento, tentei conjecturar que o bife a rolê teria essa nomenclatura por se tratar de uma forma afrancesada do termo “roulé”, que significa “enrolado” e não uma forma de linguagem coloquial, para indicar um passeio.

O bife a rolê continuou com sua explicação:

— Estive visitando alguns lugares do mundo, como o Parque Nacional de Banff no Canadá, as ilhas Phi Phi na Tailândia, a Grande Barreira de Corais na Austrália, as ilhas Açores em Portugal e a Floresta de Bambu de Arashiyama no Japão… foi um rolê aleatório, mas muito bem aproveitado.

Percebi então que, meu bife conhecia muitos lugares pelo planeta, e eu somente passava as férias de final de ano em Caraguatatuba.

O bife a rolê iria me contar outros rolês interessantes, mas como eu estava deveras irritado com aquela conversa, embriagado e com fome… comi o bife a rolê…

Sua última viagem.

 

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais. Em 2025, publicou o terceiro livro “A saga de Picolândia” – série de relatos sociopolíticos acontecidos em Picolândia – uma pequena cidade do interior, cuja sua principal fonte de renda é a produção de sorvetes. Com um tom humorístico e irônico, com uma pitada de realismo fantástico, a obra reúne diversas crônicas engraçadas narradas por um morador desta cidade.