Gazeta Itapirense

Crônica: O cachorro do Rodolfo, por Rodrigo Alves de Carvalho

— Nossa, quase não dormi de noite. Preocupado com o cachorro do Rodolfo.

— Quem é Rodolfo?

— Meu filho.

— Ah. Por quê?

— Voltou de madrugada todo machucado. Acho que brigou.

— Por isso, às vezes é melhor deixar o animal dentro de casa.

— Às vezes deixo o Rodolfo preso em casa também.

— Por que deixaria seu filho preso?

— Meu filho não! O cachorro do meu filho.

— Mas como chama o cachorro do seu filho?

— Rodolfo.

— Colocou o nome do seu filho num cachorro?

— O que tem de mais? Afinal, Rodolfo é um nome bonito.

— E por que ele fica preso em casa?

— Não obedece mais. E o pior, fica espantando a gata da Mirela.

— E quem é Mirela?

— Minha esposa.

— Já sei, a gata da sua esposa chama-se Mirela, porque esse nome é bonito…

— Claro!

— Mas, e o Rodolfo, está tudo bem com ele?

— Bem, bem não está. Ficou com a orelha rasgada.

— Briga de cachorro é assim mesmo…

— Que cachorro? Estou falando do meu filho.

— Mas como rasgou a orelha?

— Frescura da juventude. Colocou aqueles alargadores de orelha igual índio e acabou enroscando no travesseiro.

— Doeu muito?

— Não parava de gritar. Assustou a Mirela que acabou me arranhando.

— Toma cuidado com arranhado de gato.

— Não foi o gato, foi a minha mulher. Estávamos namorando no quarto e quando ouviu o grito do Rodolfo, passou a unha sem querer no meu rosto.

— Mas, falando do Rodolfo, essa idade é fogo mesmo. Saudades de quando eram novinhos e não saiam de casa.

— Por isso eu o prendo.

— Mas, estou falando do seu filho.

— Ele mesmo. Quando está de castigo. Mas ontem à noite ele fugiu do castigo e chegou já de madrugada todo machucado. Acho que brigou. Por isso quase não dormi.

— Mas, quem brigou não foi o cachorro do Rodolfo?

— Ele mesmo.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais. Em 2025, publicou o terceiro livro “A saga de Picolândia” – série de relatos sociopolíticos acontecidos em Picolândia – uma pequena cidade do interior, cuja sua principal fonte de renda é a produção de sorvetes. Com um tom humorístico e irônico, com uma pitada de realismo fantástico, a obra reúne diversas crônicas engraçadas narradas por um morador desta cidade.