Gazeta Itapirense

Nossa História – Fórum de Itapira, um clássico da arquitetura Brutalista

Itapira possui um prédio público considerado um “Clássico da Arquitetura Brutalista Paulista”: nada menos que o prédio que abriga o Fórum “Dr. Manoel Augusto de Ornellas, construído entre as décadas de 1950/1960, quando o prefeito municipal era o Sr. Antonio Caio e o governador do estado era Carvalho Pinto (1959-1963), que visando a infra-estrutura institucional do interior paulista, realizou a construção em escala de diversos prédios públicos para uso político-administrativo. E nossa cidade foi privilegiada com uma dessas obras.

Uma vez que o antigo prédio localizado quase no final da Rua Rui Barbosa, defronte ao Parque Juca Mulato abrigava conjuntamente o Fórum e a Cadeia Pública da cidade, o novo prédio foi projetado exclusivamente com tal propósito, dentro do estilo arquitetônico em questão, que era uma tendência para construção de fóruns na época. Haja vista que em várias cidades do interior paulista, todos os prédios com essa finalidade edificados naquele período, seguiram o mesmo estilo, sendo até alvo de pesquisa do professor Dr. Nilson Ghirardello, docente da Faculdade de Arquitetura de Bauru-SP, sobre a estética brutalista em três construções com o mesmo objetivo – Promissão, Avaré, e Itapira – quando comenta que: “Os três projetos possuem características semelhantes evidenciadas pelo fato de seus idealizadores pertencerem à mesma corrente arquitetônica”.

O Fórum de Itapira está catalogado entre as 500 obras do arquiteto paulistano Joaquim Manoel Guedes Sobrinho, que foi quem criou o projeto. Ferrenho defensor de Escola Brutalista, era discípulo de Vilanova Artigas, precursor desta corrente. Tal escola nada mais é do que um movimento arquitetônico desenvolvido em meados das décadas citadas anteriormente, consolidando-se como uma radicalização de determinados conceitos modernos (para a época), privilegiando a verdade estrutural das edificações de forma a nunca esconder os seus elementos estruturais, o que se conseguia ao tornar o concreto armado aparente ou destacando os perfis metálicos de vigas e pilares.

Joaquim Guedes foi o criador do belíssimo projeto

Tal projeto e construção, de imediato caíram nas graças do arquiteto contratado quanto este teve o primeiro contato com o terreno em que o prédio seria edificado. A topografia da gleba, com um bom aclive, ou em palavras comuns, um barranco, privilegiava uma construção moderna e arrojada bem nos moldes do “Brutalismo” e dentro da perspectiva de seu idealizador.

Apaixonado pela obra, Guedes descreveu o projeto dizendo que “os dois volumes paralelos distam seis metros entre si. Estão separados por um jardim central descoberto e unidos em uma de suas extremidades por uma escada fechada. Suas paredes externas são feitas de tijolo maciço e apenas pintadas de branco. Os elementos estruturais e algumas superfícies diferenciadas deixam à vista o concreto armado e as marcas de suas fôrmas. A estrutura do conjunto é formada por pilares cilíndricos e estão alinhados em ambos os volumes em seis eixos distanciados seis metros entre si”.

Segundo análise da Professora Doutora Mônica Junqueira de Camargo, mestra em Arquitetura e doutora em História da Arquitetura, “neste projeto o programa se articula em torno de um grande espaço central aberto, como uma praça, que se integra com o exterior e para onde convergem as áreas de trabalho facilitando a distribuição do programa e o atendimento ao público”. Ela ainda faz comparativo entre essa obra e outras a nível internacional dizendo que “esse arranjo de um vazio-praça está presente em algumas obras de Alvar Aalto (proeminente arquiteto finlandês) como no Centro Cívico de Säynätsalo (Finlândia – 1952)”.

Em suma, é uma honra para Itapira poder contar, na galeria de seus prédios públicos, com uma obra de tamanha relevância no cenário arquitetônico nacional e com o destaque que recebe no meio acadêmico do seguimento.

 

Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense