Gazeta Itapirense

Cérebro apodrecido? Entenda o que está por trás dessa sensação estranha (e como dar um respiro pra sua mente), por Jéssica Soares

Sabe quando você passa horas rolando o feed, pulando de um vídeo pra outro, e de repente se sente… meio lerdo? Como se o cérebro estivesse lento, embaralhado, quase “apodrecendo”? Pois é, você não está sozinho.

Essa sensação tem nome — ou pelo menos um apelido que pegou: brain rot, ou “cérebro apodrecido”. O termo ficou tão popular que foi eleito a palavra do ano de 2024 pela Universidade de Oxford. E, embora o nome soe meio dramático (ou até engraçado), ele traduz uma realidade cada vez mais comum em tempos de overdose digital.

A cabeça não dá conta de tanto estímulo

Vivemos conectados o tempo todo. Notificações, vídeos curtos, memes, listas, fofocas, trends… É muita coisa, e tudo ao mesmo tempo. Só que o cérebro humano, que evoluiu para prestar atenção em uma coisa de cada vez, não consegue processar essa avalanche sem sofrer as consequências.

Com o tempo, esse consumo excessivo de conteúdo rápido e raso pode afetar nossa concentração, nossa memória, nossa disposição e até nosso humor. É como se a mente ficasse presa num modo “zumbi”: você está ali, acordado, mas nada engata de verdade. E o pior: esse estado meio anestesiado pode virar o novo normal.

O que os estudos dizem?

Pesquisas recentes mostram que o uso exagerado da internet pode sim afetar o funcionamento do cérebro — inclusive em regiões relacionadas à tomada de decisões, controle de impulsos e organização de ideias. Em alguns casos, foram identificadas até mudanças físicas na estrutura cerebral, especialmente quando o consumo envolve conteúdos excessivamente simples ou repetitivos.

Além disso, o vício em redes sociais está ligado a um aumento dos níveis de ansiedade, insônia, e àquela sensação constante de estar “atrasado” em relação ao mundo. Ao mesmo tempo, o cérebro vai perdendo o costume (e a paciência) para conteúdos mais densos e atividades que exigem atenção prolongada, como ler um livro ou escrever um texto.

Dá pra reverter?

A boa notícia: sim, dá. O cérebro tem uma capacidade incrível de se adaptar — pra melhor ou pra pior, depende de como a gente usa. Pequenas mudanças de hábito podem fazer uma grande diferença.

Diminuir o tempo de tela, silenciar notificações desnecessárias e, principalmente, escolher com mais carinho o tipo de conteúdo que você consome já ajuda muito. Outra dica poderosa é resgatar atividades que estimulem a mente de forma mais profunda: um bom papo cara a cara, um passeio sem o celular na mão, ou até mesmo aquele velho hobby que ficou esquecido no armário.

E se o “apodrecimento” for um alerta?

Talvez o mais importante dessa conversa toda seja entender que o brain rot não é só uma brincadeira de internet. É um jeito que a nossa mente encontrou pra pedir socorro. Um aviso de que algo precisa mudar. Afinal, a gente cuida do corpo quando sente dor, né? Por que não cuidar da mente quando ela dá sinais de cansaço?

No fim das contas, o cérebro só quer um pouco de paz, de espaço pra respirar — e, quem sabe, de um pouco menos de feed e um pouco mais de vida real.

 

Jessica Fernanda Palini Soares

ABG – 530

Gerontóloga Formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Psicanalista com Especialização em Neuropsicanálise e Hipnose Clínica

Neurocientista com Especialização em Reabilitação Cognitiva e Neurociência  do Comportamento, da Mente e do Desenvolvimento Humano.

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