Gazeta Itapirense

Artigo: As 5 Feridas Emocionais: Quais Marcam Você?, por Jéssica Soares

Imagine que você tem um machucado na mão. Se ele não for tratado, qualquer toque, por mais leve que seja, causará dor. Você pode até esquecer que a ferida está lá, mas ao encostar nela novamente, a dor reaparece. O mesmo acontece com nossas feridas emocionais. Elas podem estar escondidas, mas quando algo ou alguém as toca, reagem de forma intensa, moldando nossas atitudes e relações. Todos nós carregamos marcas invisíveis. Algumas são leves arranhões, outras cicatrizes profundas que moldam a forma como vemos o mundo e nos relacionamos com as pessoas.

O psicoterapeuta Lise Bourbeau identificou cinco feridas emocionais que surgem na infância e podem nos acompanhar por toda a vida: rejeição, abandono, humilhação, traição e injustiça. Cada uma delas cria padrões emocionais e comportamentais que nos fazem reagir, muitas vezes sem perceber. Vamos explorar melhor cada uma delas e seus sintomas.

 

A Ferida da Rejeição

Essa ferida nasce quando a criança se sente indesejada, ignorada ou não aceita como é. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando pais ou cuidadores demonstram frieza ou criticam constantemente aspectos da sua personalidade.

Sintomas comuns:

  • Sensação de não pertencimento;
  • Medo intenso de ser ignorado ou excluído;
  • Tendência a se isolar ou evitar situações sociais;
  • Baixa autoestima e autossabotagem (acreditar que não é bom o suficiente);
  • Dificuldade em aceitar elogios ou reconhecimento;
  • Pode desenvolver a necessidade de agradar a todos para evitar rejeição.

Comportamento típico: Pessoas com essa ferida podem evitar vínculos profundos por medo de serem rejeitadas. Também podem se anular ou tentar ser “invisíveis” para não correrem riscos emocionais.

A Ferida do Abandono

Surgida quando a criança sente que não recebe atenção, proteção ou afeto suficiente, essa ferida pode estar ligada a pais ausentes (fisicamente ou emocionalmente). Isso gera um medo intenso da solidão.

Sintomas comuns:

  • Medo exagerado de ficar sozinho ou ser esquecido;
  • Necessidade excessiva de atenção e validação externa;
  • Tendência a criar dependência emocional nos relacionamentos;
  • Sensação de vazio e carência afetiva constante;
  • Alternância entre carência e explosões emocionais quando se sente desamparado;
  • Dificuldade em se sentir completo sem a presença do outro.

Comportamento típico: Essas pessoas podem se apegar rapidamente, ter dificuldade em estabelecer limites e suportar relações abusivas por medo da solidão.

A Ferida da Humilhação

Essa ferida surge quando a criança se sente envergonhada ou ridicularizada, muitas vezes por aqueles que deveriam protegê-la. Pode estar relacionada a críticas excessivas, comparações negativas ou situações de humilhação pública.

Sintomas comuns:

  • Medo intenso de ser criticado ou exposto;
  • Tendência a se colocar em posição de inferioridade;
  • Sentimento de culpa constante, como se nunca fosse bom o suficiente;
  • Dificuldade em expressar desejos e necessidades, por medo de ser julgado;
  • Comportamento de autoanulação (sacrificar-se para os outros);
  • Em alguns casos, pode desenvolver sarcasmo ou ironia como defesa.

Comportamento típico: Pessoas com essa ferida tendem a se colocar em segundo plano, buscando agradar os outros e evitando qualquer situação que possa gerar vergonha.

A Ferida da Traição

Essa ferida surge quando a criança sente que foi traída, enganada ou que teve suas expectativas frustradas por figuras de autoridade. Pode ocorrer quando os pais prometem algo e não cumprem ou quando a criança percebe instabilidade no ambiente familiar.

Sintomas comuns:

  • Dificuldade em confiar nos outros;
  • Necessidade de controle sobre pessoas e situações;
  • Ciúmes e possessividade exagerada nos relacionamentos;
  • Medo de ser enganado ou passado para trás;
  • Tendência a ser dominador ou autoritário para evitar ser traído;
  • Expectativas muito altas em relação aos outros, levando a decepções frequentes.

Comportamento típico: Quem carrega essa ferida pode oscilar entre ser carismático e desconfiado, testando constantemente as pessoas ao seu redor para evitar se machucar novamente.

A Ferida da Injustiça

Essa ferida aparece quando a criança cresce em um ambiente muito rígido, onde há cobrança excessiva e pouco espaço para expressão emocional. Como resultado, a pessoa aprende a ser extremamente crítica consigo mesma e com os outros.

Sintomas comuns:

  • Tendência ao perfeccionismo extremo;
  • Dificuldade em lidar com erros e falhas (suas e dos outros);
  • Rigidez emocional, com dificuldade em demonstrar vulnerabilidade;
  • Necessidade de sempre estar no controle da própria vida;
  • Sensação de que o mundo é cruel e injusto, levando a posturas defensivas;
  • Em alguns casos, pode apresentar comportamento frio ou distante para se proteger.

Comportamento típico: Pessoas com essa ferida costumam ser exigentes, tanto consigo quanto com os outros. Podem se esforçar ao máximo para serem “perfeitas”, mas raramente se sentem satisfeitas.

E agora?

Identificar essas feridas é o primeiro passo para curá-las. Reflita:

  • Alguma dessas feridas ressoa com sua história?
  • Como ela tem impactado suas relações e suas escolhas?
  • Que pequenos passos você pode dar para começar a cicatrizá-la?

A cura emocional acontece quando trazemos consciência para nossas dores e nos permitimos vivenciar novas experiências. O autoconhecimento é um convite para olharmos para dentro e começarmos a transformar as feridas em aprendizado. E você, qual ferida sente que precisa curar?

Jessica Fernanda Palini Soares

ABG – 530

 Gerontóloga Formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Psicanalista com Especialização em Neuropsicanálise e Hipnose Clínica

Neurocientista com Especialização em Reabilitação Cognitiva e Neurociência  do Comportamento, da Mente e do Desenvolvimento Humano.

Contato: (19) 98196 – 2463

jessicageronto@hotmail.com