Gazeta Itapirense

Flor de São João colore a cidade e mantém tradição familiar há 60 anos

Com a chegada do mês de junho, a natureza dá um espetáculo à parte nos arredores de Itapira. A tradicional “Flor de São João” — conhecida por sua intensa coloração alaranjada e por florescer justamente no período das festas juninas — já pode ser vista em diversos pontos da cidade. Há mais de 60 anos a família Fontolan mantém o costume de distribuir a Flor de São João embalada em saquinho como símbolo de prosperidade e proteção

Nossa equipe de reportagem percorreu a estrada ‘velha’ de terra que liga Itapira a Mogi Mirim, onde inúmeros exemplares da planta chamam a atenção de quem passa pelo local.

Símbolo do inverno e presença quase obrigatória nas comemorações juninas, a flor é na verdade uma espécie trepadeira de nome científico Pyrostegia venusta, mas que ficou popularmente conhecida como “Flor de São João” por florescer justamente nesta época do ano, em torno do dia 24 de junho — data em que se celebra o santo.

Além de embelezar muros, cercas e estradas com suas flores vibrantes, a planta também é valorizada pela rusticidade e pela capacidade de crescer em diferentes tipos de solo e clima. Na região, é comum encontrá-la adornando propriedades rurais e áreas de vegetação mais preservada.

Pelo rural entre Itapira e Mogi Mirim foram encontradas várias floradas da trepadeira, que enfeitam a paisagem e reforçam a ligação entre a cultura popular e a natureza. A presença da Flor de São João é tão marcante que, para muitos, ela se tornou um verdadeiro indicativo de que as festas juninas chegaram.

Para quem quiser apreciar de perto, a dica é fazer o trajeto com atenção redobrada, aproveitando os cenários típicos do interior paulista e registrando a beleza que a estação oferece. Vale lembrar que a flor, além do apelo estético, representa a resistência da cultura tradicional e o encanto simples das festas que aquecem os corações mesmo nos dias mais frios.

Com sua cor vibrante, Flor de São João transforma as paisagens na zona rural (Foto: Gilmar Carvalho/A Gazeta)

 

Uma tradição que se renova em Itapira

Há mais de 60 anos, a família Fontolan mantém o costume de distribuir a flor de São João como símbolo de prosperidade e proteção.

Na véspera de São João, enquanto muitos se preparam para as festas juninas, em uma tradicional família de Itapira, um ritual singelo e cheio de significado se repete com o mesmo cuidado de décadas atrás: a colheita e a distribuição da flor de São João.

O gesto, mantido com zelo por dona Francisca Fontolan, mais conhecida como Chica do Seleiro, é uma tradição que atravessa gerações. Ela herdou esse costume de sua sogra, Francelina Espécie Fontolan, esposa de Gildo e filha de Meme, fundador da histórica Selaria São Domingos. Francelina era mãe de João Seleiro, e foi com ela que tudo começou há mais de seis décadas.

A prática consiste em colher a flor de São João no dia 23 de junho, véspera do santo celebrado no dia seguinte. A flor é cuidadosamente colocada em pequenos saquinhos de tecido, que são então distribuídos entre familiares e amigos. Segundo a crença popular passada de geração em geração, quem carrega esse saquinho na carteira garante fartura e proteção financeira até o próximo São João.

Com todo carinho, a sempre carismática dona Chica prepara as embalagens (Foto: Gilmar Carvalho/A Gazeta)

“Essa é uma tradição que eu faço questão de carregar, porque traz memórias. Memórias de familiares que são muito caros pra nós, de pessoas que a gente tem muita saudade. E os familiares cobram, pedem que isso não se perca, que continue, porque sabem o valor que tem”, conta dona Chica, emocionada.

A cada ano, os mais jovens também participam da coleta, mantendo viva uma herança que mistura fé, afeto e identidade cultural. Em tempos em que tantas tradições se perdem, o gesto simples de distribuir a flor de São João se torna ainda mais valioso: uma forma de manter acesa a chama da história familiar e da cultura popular brasileira.

 

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