Gazeta Itapirense

Coluna ‘Traço Feminino’, por Hellen Santos

Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.

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                                       Sobrecarregadas!

 

Acredito que nos dias atuais seja muito difícil encontrar mulheres que não se sintam sobrecarregadas. Inclusive, cada vez mais são  expostos os malefícios da sobrecarga feminina, sendo tema de estudos e de preocupação médica.

Em meio a tantas tarefas e a vida agitada, muitas vezes ao desabafar sobre o cansaço que sentem, as mulheres escutam a  desestimulante frase:- “foram queimar sutiãs e deu nisso!”

Quando não se conhece os fatos históricos, qualquer um se torna estudioso sobre o tema e acaba falando o que acredita ser uma verdade, e não o que realmente aconteceu.

Ao falar sobre a queima de sutiãs e fazer associação a luta feminista, se comete um grande equívoco, pois não foi o feminismo da década de 1960 e 1970  que saiu queimando sutiãs, aliás, nunca se queimou sutiãs de verdade!

A ideia sobre “queimar sutiãs” ocorreu devido a um protesto contra o concurso Miss América que ocorreu em 1968, em Atlantic City, Nova Jersey, EUA. As ativistas denunciavam a exploração comercial da aparência feminina , a visão arbitrária e opressiva em relação às mulheres.

Esse protesto foi interpretado de várias maneiras, seja como denúncia de uma ideologia repressora que impunha padrões de beleza às mulheres da época, incluindo o uso de sutiãs e criticando a ideia de “queimar sutiãs”, já alegando que poderia ser interpretado como uma forma de rejeitar a própria feminilidade, além de polarizar o debate sobre o movimento feminista, criando esteriótipos e uma postura agressiva do em relação ao movimento.

E de onde será que vem informações incompletas ou mentirosas? – A quem será que interessa? – Atualmente o machismo estrutural não precisa se expor, apenas propaga fake news, e esperar para ver o que acontece, se a narrativa se torna realidade e sabemos o quanto  “ela se faz verdadeira”.

Fato é que, atribuir à sobrecarga das mulheres ao movimento feminista, que tem um histórico de luta na conquista de direitos é injusto e só alimenta aos interesses da sociedade misogina e machista, além de não ser  uma saída inteligente.

Pensar e lutar por práticas que auxiliem as mulheres, sejam através de políticas públicas, leis e olhar institucional se faz necessário.

As mesmas pessoas, em sua maioria homens, que querem culpar as mulheres por “queimar sutiãs”, em relação a sobrecarga que elas vivem, não tem compromisso com a trajetória de conquistas que as mulheres carregam por toda a sua luta e coragem, pois nenhum direito foi dado, todos foram conquistados a base de muita resistência e até mesmo mortes.

Apesar da sobrecarga que temos vivido, será que nós mulheres abriríamos mão de trabalhar, da conquista de espaços, de termos o nosso próprio dinheiro? Será que valeria a pena, não podermos pisar em uma universidade para estudarmos ou vermos as nossas filhas sendo impedidas de  estudar, não termos as nossas carreiras profissionais, não podendo dirigir os nossos carros, não podermos votar em quem quisermos, não termos a licença maternidade para cuidar dos nossos filhos, entre tantos outros direitos conquistados pelo movimento feminista ? – Pois vocês podem até não gostar ou não concordar com o movimento, e quanto a isso ninguém é obrigado, mas foi a partir dele que os direitos foram conquistados.

Não se pode negar que ainda precisamos de muito para chegarmos a um lugar melhor, e que os homens são peças importantes junto das mulheres, pois entender o lugar de privilégio que os homens  ocupam e combater as desigualdades de gênero, não é só para as mulheres, mas para todos os cidadãos.

Lutar por ampliação dos direitos, para que as mulheres que queiram e possam cuidar da sua família, dentro das suas casas seja possível, e que as mulheres que desejam e precisam enfrentar a jornada do lado de fora de casa possam ter igualdade de oportunidade, existindo uma democracia para e entre as mulheres, pois a liberdade para nós é poder tomar qualquer que seja a decisão, para o nosso bem e o da nossa família!

      “Eu não vou me desculpar por quem eu sou”

 

Por: Hellen Santos

hellenccsed@gmail.com