Gazeta Itapirense

Coluna Traço Feminino, por Hellen Santos

Traço Feminino

Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.
Seja muito bem-vinda (o) !

Lugar de fala das mulheres

Conceitualmente “ lugar de fala “ refere-se a identidade de quem fala, que influencia a fala de quem se expressa e interpreta a realidade. Claro que não é o meu objetivo restringir a fala de ninguém, mas sim reconhecer a importância de cada voz e de cada experiência, em especial, das mulheres.

Todos têm o direito de se expressar, mas é fundamental que se reconheça a importância de ouvir as vozes daquelas que foram historicamente silenciadas.

As mulheres foram impedidas de ter esse lugar de fala, intencionalmente e convenientemente por “homens” que nunca quiseram alterações ou melhorias para a vida delas, alegando incapacidade ou até mesmo fatores biológicos do sexo feminino.

Com muitas batalhas e desafios enfrentados diariamente pelas mulheres brasileiras, só foi com a constituição federal em 1988 que foi “ conquistado a liberdade plena para as mulheres”. Ainda é perceptível a recusa à fala das mulheres em muitas situações, por exemplo: -Quantas vezes você já ouviu: – “aquela mulher que está falando é louca, desequilibrada ou está surtada?”

Esse pensamento machista e que coloca a mulher no lugar de “ louca” é recorrente, sendo uma ferramenta para desmoralizar ou enfraquecer a fala das mulheres. Por isso, para nós, mulheres , ter esse lugar, significa garantir que as nossas vozes sejam ouvidas em debates sobre temas que afetam diretamente nossas vidas, como igualdade de gênero, violência contra a mulher, saúde, educação, entre outros. Isso inclui a necessidade de desafiar estereótipos e preconceitos que nos impedem de termos voz, sendo ouvida e respeitada.

A importância de ter e lutar para a ampliação do nosso lugar de fala, reflete em benefício para a própria sociedade. Nos ouvir é enxergar pela ótica feminina, além de possibilitar descobertas que nos são próprias.

As conquistas em ter uma sociedade (cidade) que tenha esse lugar de fala para nós, são significativas, além de se reconhecer o lugar de fala das mulheres negras, o qual me incluo e sinto diariamente as mesmas dificuldades que você, leitora negra que lê a coluna.

Existem problemas que as mulheres negras enfrentam na nossa cidade, que diferem muito das mulheres brancas, principalmente a discriminação racial e a falta de oportunidade. Muitos são os relatos que venho recebendo sobre esse tema desde que iniciei a coluna semanal, e que demonstram a grande necessidade de mudança urgente.

O nosso lugar de fala como mulheres negras não é algo que pode ser “dado” em um evento ou situações específicas, mas todos os dias, implementando e garantindo nossos direitos.

Não se enganem ao pensarem que lhes falta oportunidade ou apoio em Itapira, como muitas tem me dito, e que a razão seja “ porque não estudaram ou não tenham uma profissão “, pois a mim que possuo essas referências as quais vocês se referem, tenho sido atingida constantemente por “eles” que tentam a todo custo me desmoralizar e fazer desistir dos meus objetivos.

Desta forma, todas nós , mulheres pretas e brancas sofremos com a escassez do lugar de fala, em especial em Itapira, tendo diferentes barreiras, mas no final, estamos TODAS lutando para sermos ouvidas!

“O feminismo é a ideia radical de que as mulheres são pessoas.”

Por: Hellen Santos
hellenccsed@gmail.com

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