Artigo – Bebês Reborn: Entre o Consolo Emocional e o Alerta Social, por Tiago Fontolan
Nas últimas semanas, o Brasil tem testemunhado um fenômeno que transcende o simples colecionismo: a crescente popularidade dos bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam com perfeição recém-nascidos. Vídeos de adultos cuidando dessas bonecas como se fossem filhos reais, incluindo trocas de fraldas, amamentações simuladas e até visitas a hospitais, têm gerado debates acalorados nas redes sociais e na mídia.
Para alguns, trata-se de um hobby inofensivo ou mesmo terapêutico. Especialistas apontam que, em casos de luto perinatal ou traumas afetivos, os reborns podem servir como instrumentos de conforto emocional, auxiliando na regulação de emoções e na redução do estresse . A artesã Silvana Soares, por exemplo, relata que seus reborns têm sido utilizados em terapias para pessoas com Alzheimer em estágio inicial, proporcionando memória afetiva e companhia.
No entanto, quando a relação com o boneco ultrapassa os limites do lúdico e se torna uma fuga da realidade, surgem preocupações. O psicanalista Eduardo Casarotto alerta para o risco de os reborns se tornarem substitutos fetichizados para dores não elaboradas, como a impossibilidade de ter filhos ou a idealização de uma maternidade perfeita . Nesses casos, o boneco deixa de ser um símbolo e vira um obstáculo para elaborar perdas ou frustrações.
A sociedade, por sua vez, muitas vezes responde com escárnio ou incompreensão. A ridicularização dessas práticas pode mascarar uma questão mais profunda: a necessidade de olhar com empatia para indivíduos que, claramente, estão buscando preencher lacunas emocionais. Em vez de julgamento, talvez devêssemos oferecer apoio e compreensão.
É fundamental distinguir entre o uso saudável dos reborns como ferramentas terapêuticas e os casos em que há uma substituição das interações humanas por relações imaginárias. A psicóloga Carolina Silva enfatiza que, quando o afeto dedicado ao boneco começa a substituir interações sociais reais, pode ser indicativo de quadros de ansiedade, depressão ou outros transtornos emocionais.
Por: Thiago Fontolan