Escola Dr. Júlio Mesquita completou 125 anos de muitas histórias
Responsável por ensinar para a vida milhares de alunos de Itapira, a Escola Estadual Dr. Júlio Mesquita completou 125 anos de muitas histórias. A simbólica data passou meio que despercebida, mas foi em 10 de fevereiro de 1900 que deu início este estabelecimento de ensino que mora no coração de tanta gente.
Situado bem no coração da cidade, tendo como ‘vizinho’ o não menos importante Parque Juca Mulato, o Velho Mesquita está cada vez mais presente na vida dos centenas de alunos e seus familiares. Hoje estudam lá crianças que fazem do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
A história da escola começa em 17 de fevereiro de 1897 quando foi lançada a pedra fundamental para a construção do primeiro Grupo Escolar de Itapira com projeto de autoria do conceituado arquiteto Victor Dubugras, em terreno adquirido dos bens da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha.

Em sessão da Câmara Municipal, no dia 15 de junho de 1898, os vereadores solicitaram dar ao Grupo Escolar o nome do jornalista Dr. Júlio Mesquita, “visto ser a expressão da vontade popular desta cidade”. Júlio César Ferreira de Mesquita, natural de Campinas, foi advogado, político e jornalista brasileiro, proprietário do jornal O Estado de S. Paulo.
A instalação do Grupo Escolar se deu no dia 10 de fevereiro de 1900 e até hoje o primeiro livro de ponto dos funcionários encontra-se arquivado no acervo histórico da escola.
Em 2008, a unidade escolar passou por significativa reforma de modernização dos banheiros, bebedouros, execução de cobertura da quadra, troca dos telhados, dos assoalhos e forros de madeira, e outras melhorias necessárias ao bem-estar e qualidade de vida a toda comunidade escolar.
Em 2010 o prédio foi tombado com a Resolução SC 60, passando a fazer parte do patrimônio histórico e cultural do estado de São Paulo entre as escolas construídas durante o período da Primeira República. Foram preservados, ainda hoje, alguns objetos e relíquias da época, incluindo os quadros doados de três personalidades importantes — entre elas o próprio Júlio Mesquita, que dá nome à escola — que fizeram parte da história da instituição, expostos em seu corredor principal.
Já em 2012, a escola recebeu uma obra de restauração, incluindo prospecção pictórica, ou seja, resgate e restauração de faixas decorativas, frisos, molduras da época da construção da escola. Foram realizadas também adequações internas e externas para atendimento às normas de acessibilidade, pintura geral do prédio principal, rebaixamento e modernização da infraestrutura do porão, tudo de acordo com projeto desenvolvido pela FDE. A solenidade de entrega do prédio totalmente adequado e restaurado ocorreu em 8 de abril de 2014 com a presença do secretário estadual da Educação da época e de outras autoridades estaduais e municipais, ex-alunos e membros da comunidade escolar.
Histórias
No decorrer dos 121 anos desta linda trajetória, esta tradicional escola pôde lançar sementes de futuros intelectuais, dirigentes de diversos segmentos e nobres cidadãos de famílias das mais diversas e dignas profissões. Milhares de itapirenses passaram por suas carteiras.
Menotti Del Picchia, uma das mais célebres figuras da literatura brasileira, fez suas primeiras letras, de 1901 a 1903, no Grupo Escolar Dr. Júlio Mesquita. O famoso poema “Juca Mulato” foi escrito no tempo em que morou em Itapira.
Quem passou pelo Velho Mesquita nas décadas de 70/80 não consegue se esquecer do carismático seo Evilásio, o comandante da cantina, ou da dona Antônia Merendeira, uma mulher que tinha o coração maior do que ela. Entre os mestres queridos destaque para seo Alcindo Torrezan que, com muito humor, ensinava História para a gurizada.
Do lado de fora, outra figura não menos importante para a criançada em geral: seo Pedro Pipoqueiro. Ele estacionava seu carrinho, que tinha até cobertura contra chuva para ele, bem na equina da escola. Para assanhar os alunos, acendia sua pipoqueira e, na hora que o milho começava a saltar, o cheiro entrava pelas janelas envidraçadas e, num passe de mágica, ia direto para os narizes de todos. Era o ‘start’ para comprar na saída um saquinho. Quem não tinha dinheiro encostava ao lado daquele senhor sorridente e falava: “dá pipoca seo Pedro”. De pronto ele respondia: “comprar que é bom não compra né”. Mas seu bom coração não resistia e ele enchia as mãos unidas dos ‘pidonchos’.
E o que falar das lendas que faziam parte da rotina do Mesquitão?
A Loira do Banheiro e o Porão Mal Assombrado faziam as mentes dos pequenos alunos viajarem para longe. Alguns tinham medo e muito têm até hoje. Mas isso faz parte do folclore de uma escola construída praticamente em cima de um cemitério.
O que importa é que a escola Júlio Mesquita está lá, firme e forte, como sempre foi. Como se fosse um vinho, envelhece, mas sua beleza se revigora a cada segundo.
Quem quiser matar a saudade, é só passar nas imediações da escola por volta das 17h20 e ver aquele burburinho de outrora, com carros e vans estacionando, pais conversando enquanto esperam seus filhos, crianças saindo apressadas para irem para suas casas e o velho sinal tocando de forma estridente como tem feito nos últimos 125 anos.
Fotos: Acervo Escola Dr. Júlio Mesquita e Divulgação