Crônica: Frederico Olavo, o ator, por Rodrigo Alves de Carvalho
A maior celebridade daquela cidadezinha era Frederico Olavo, o ator.
Desde pequeno, Frederico Olavo já dava mostras de seu talento nos teatrinhos da escola onde emocionava o público ao interpretar o Pequeno Príncipe ou Romeu Montecchio.
Quando se tornou moço e decidiu sair da cidade para cursar Artes Cênicas na capital, deixou todos os moradores orgulhosos e ansiosos pelo sucesso do querido garoto prodígio.
Após alguns anos estudando e encenando pequenos papéis em pequenos teatros, Frederico Olavo teve sua grande oportunidade em uma ponta na novela das seis.
Para a cidade, aquela participação foi apoteótica, apenas cinco palavras que mereciam o Oscar. Frederico Olavo interpretava um atendente de hotel.
O protagonista chega ao hotel para se hospedar.
Frederico Olavo: — Pois não, senhor?
Protagonista: — Um quarto, por favor.
Frederico Olavo: — Sim, senhor!
E só.
As moças da cidade apaixonaram pelo personagem, os rapazes cortaram o cabelo como o atendente do hotel e todos passaram a dizer um ao outro: “Pois não, senhor” e “Sim, senhor”, entoando a voz como Frederico Olavo havia interpretado. Contudo, isso não foi nada perto do fuzuê quando souberam que Frederico Olavo iria ser protagonista de um filme inteirinho.
No dia da estreia, o pequeno cinema da cidade estufou de tanta gente, nas primeiras filas estavam o prefeito, vereadores, o juiz, o promotor e o padre Luvanor, além dos familiares de Frederico Olavo, sua mãe, seu pai, cinco tias, oito sobrinhos, dez primos e a bisavó que dormia quase o dia inteiro, mas fez questão de ir assistir o bisneto querido no cinema.
A sinopse do filme era sobre um casal que ficava preso num apartamento durante uma tempestade e dali surgiriam vários conflitos entre o homem e a mulher.
O filme começa, e em cena, uma atriz famosa e bonita estava olhando a tempestade pela janela do apartamento. Abre-se a porta do banheiro e a câmera focaliza no rosto de Frederico Olavo enxaguando o cabelo com uma toalha. A câmara segue focada em seu rosto até se aproximar da moça na janela. Seus rostos se encontram e eles se beijam. A câmera vai se afastando e enquadra os dois abraçados de corpo inteiro.
Silêncio no cinema, nem um pigarrinho, todos os olhos aturdidos à cena que se desenvolve… até que a bisavó de Frederico Olavo acorda na cadeira, olha para a tela grande e grita alto, entre um sorriso maroto:
— Ele está pelado!
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais.